Rádio, primeiro eletrodoméstico com circuitos eletrônicos de minha casa, portanto não se deve estranhar que um rádio tenha esta importância toda na minha memória afetiva, e que fundamento a seguir.
Estou transcrevendo esta época que vivi entre 1962 e 1969 em que nos conectávamos, opa!!!! ou melhor, escutávamos o mundo todo através das Ondas Curtas de 31 e 49 metros e em Ondas Médias num receptor valvulado de 6 válvulas eletrônicas, sendo uma delas um Olho-mágico 6E5. Este rádio era um modelo Empire fabricado em São Paulo, por volta de 1958.
Este rádio era o centro de divertimento e informação da família e ficava na sala numa prateleira a cerca de um metro e meio de altura, longe do alcance das crianças, evitando que elas girassem os botões.
Neste rádio meu pai e eu escutávamos os jogos dos times gaúchos e noticiários como o Repórter Esso, a Voz do Brasil e em horário nobre por voltas das 20.00 horas de segunda a sexta-feira as rádio novelas, em que eu acompanhava a audiência junto com minha mãe escutando as duas novelas que mais me marcaram que foram o Direito de Nascer e depois O Sheik de Agadir.
Escutávamos as emissoras de ondas curtas: Rádio Guaíba na época líder de audiência no estado e a Rádio Gaúcha, além da Rádio Tupy, Rádio Nacional e emissoras internacionais como a BBC de Londres. Claro que nossa cidade apresentava alternativas para Ondas Médias e assim podíamos escutar a Rádio Erechim ou Rádio Difusão.
Para melhor se localizar este mundo se passava numa pequena cidade do Norte do estado do Rio Grande do Sul, Erechim e durou até por volta de 1967 quando a revolução das comunicações chegou... era a Televisão que através de repetidoras pelo estado conseguiam trazer as imagens de um Canal de Televisão de Porto Alegre, a TV Piratini uma afilhada da grande rede a TV Tupy.
As imagens eram horríveis, em preto e branco e com mais chuviscos do que imagens, mas eram um assombro para nós que um receptor apresentava não só sons mas também imagens e isto obviamente marcou o fim da hegemonia do rádio na cidade.
Assim por muito tempo os vizinhos visitavam outros vizinhos com poder aquisitivo maior que adquiriam uma TV e o objetivo das visitas era antes de tudo assistir Televisão.
Em minha casa este upgrade aconteceu em 1969, com meu pai comprando uma TV e com isto se preparando para assistir a Copa do Mundo de Futebol de 1970 no México, para mim a Copa das Copas, onde nos sagramos TRI-CAMPEÔES MUNDIAIS DE FUTEBOL.
Mas todo detalhamento histórico acima é para dizer do meu fascínio pelo rádio que começou lá pelos meus 6 anos e que eu me imaginava abrindo aquele antigo rádio e desvendado os segredos de como uma caixa de madeira com 4 botões tinha este poder mágico de envolver nossa família inteira, trazendo sons e emoções.
É obvio que eu nunca tive acesso a parte traseira do rádio nesta época, mas depois de uns 25 anos já com formação na área de Eletrônica e foi seguramente despertada pelo rádio da família, eu tive o prazer de restaurar este mesmo rádio bastante original na parte de circuitos, mas com gabinete dominado por cupins e que estava em poder de uma tia num galpão de uma cidade vizinha, e que se tornou o primeiro exemplar de minha coleção.
Assim por volta de 1982 eu começava a colecionar rádios recebendo doações de familiares e amigos além de fazer aquisições em Oficinas de Rádios e Antiquários e em sites nacionais e internacionais.
O objetivo maior deste site é uma modesta contribuição com fotos de parte de minha coleção e alguns vídeos de algumas restaurações minhas, para colecionadores, restauradores e entusiastas do RÁDIO RECEPTOR de uso doméstico, servindo de referências visuais, que antes do advento da Internet eram muito difíceis de ter disponíveis.